terça-feira, 4 de novembro de 2008

Continuação da saga do Jamba...

O irmão apanhou uma garrafa de plástico que tinha ali, e com um papel, meteu o lacrau lá dentro e fechou-a, enquanto a mulher e os filhos gritavam por socorro. Alguns vizinhos vieram a correr para ver o que se passava e ajudaram a meter Jamba dentro do carro do irmão, e seguiram para o hospital.
Felizmente, nas tardes de sábado o transito não era muito complicado quando comparado com os dias de semana. A viagem foi atribulada sim, mais pela aflição da esposa de Jamba que temia perder o marido assim, envenenado por um lacrau, e sem nada poder fazer.
Chegados ao hospital, Jamba deu entrada imediata nas urgências. O seu estado inspirava cuidados extremos. Rapidamente o irmão e a mulher informaram que o causador daquela situação era o bicho que estava dentro da garrafa.
Médicos e enfermeiros trocaram olhares de incredibilidade e de irresolução. Comunicaram aos familiares de Jamba, que ali no hospital nada havia a fazer – não havia antídoto para as ferradas daquele bicho.
A inoperância era total. Ninguém se mexia. É então que um enfermeiro mais velho, assistindo a todo aquele drama, aconselhou a que levassem o homem ali á praça, situada em frente ao hospital, onde estão as curandeiras que praticam a medicina tradicional.
– O quê? Hospital não tem antídoto prá lacrau? – interrogavam os colegas dele, sem querer acreditar no que acabavam de ouvir.
Não tinha mesmo, e Jamba continuava desmaiado.
Saíram do hospital e correram para a praça. O irmão carregando Jamba nas costas, e a esposa gritando que ele tinha sido mordido por lacrau – o bicho que ela levava na garrafa.
De imediato, duas mulheres começaram a analisar o corpo, debruçando-se sobre o local onde tinha ocorrido a mordida. Uma das curandeiras começou a esmagar o lacrau dentro de uma tijela, enquanto outra, utilizando uma lâmina de barbear, executava pequenas incisões nas costas dele, à volta do local onde o bicho tinha mordido. Dos incontáveis cortes efectuados, jorravam fios de sangue que escorriam pelas costas de Jamba. A outra mulher continuava a triturar o bicho, e juntando-lhe óleo de palma e outros líquidos, amassava a mistura e fazia uma espécie de rezas, completamente inaudíveis e imperceptíveis.
Em seguida, uma vez concluída a papa, untaram a ferida nas costas de Jamba. Subitamente, este começa com convulsões, contorcendo-se e rebolando de um lado para o outro como se estivesse possuído por uma estranha força. A pedido das curandeiras, vários homens seguraram e amarraram as mãos e os pés do Jamba, fazendo com que ficasse de costas para cima, de modo que a mistura se fixasse na ferida e provocasse o efeito pretendido.
No gabinete do chefe reinava um silêncio sepulcral, interrompido aqui e ali com interjeições de dor e angústia, e com exclamações de assombro e incredibilidade. Na face dos presentes instalou-se uma expressão de solidariedade e um olhar de resignação.
Graças às curandeiras, Jamba estava vivo, e em breve terminaria o muro em volta da sua casa.
Quem não era crédulo destas tradições e superstições, era o chefe:
– Vocês acreditam nisso? O que safou ele foi elas terem sacado o sangue envenenado! – exclamava com autoridade de chefe.
– O chefe pode não acreditar, mas essa gente cura mesmo – afiançava o Moisés, um dos colegas.
– Ah! Qual cura qual quê! É tudo superstição. Vais dizer que também acreditas em feitiçaria? Vais?
– Eu acredito – respondeu o Moisés – e vou contar um caso que aconteceu comigo à uns tempos atrás. Vocês lembram daquele Toyota velho que eu tinha?

(espero ter satisfeito a curiosidade dos prezados leitores....será que o Toyota também se safa?)
Texto original
Autor: João Carvalho

2 comentários:

Anónimo disse...

O Jamba safou-se ... Vamos aguardar pela história do Toyota ...

Anónimo disse...

O Jamba safou-se! Mas o Moisés de Toyota? Esse não era o tipo que andava de "tatu" e de sandálias? Hum? Vê lá não mudes a história!